MATEMÁTICA DO AUTISMO

Como ensinar matemática para crianças com autismo

13/11/2015
Como ensinar uma criança com autismo a somar

Interesses:
Como ensinar uma criança com autismo a somar

Dar voltas pelo quarto de brincar em cima de um tecido, simulando um voo de avião.

Metas principais:

Aprendizado de matemática (operações de adição).
Participação em brincadeira simbólica.

Ação motivadora (o papel do adulto):

O adulto leva a criança para dar voltas pelo quarto de brincar sobre um tecido simulando um divertido e emocionante voo de avião pelo quarto de brincar. O avião pousará próximo a um supermercado, onde a criança e o adulto poderão fazer compras, como ilustrado no vídeo abaixo.

Solicitação (o papel da criança):

A criança poderá escolher os produtos do supermercado e depois será motivada a somar a quantidade de produtos escolhidos.

Estrutura da atividade:

Como iniciar a atividade com entusiasmo?
O adulto usa empolgação para convidar a criança para dar voltas ou giros pelo quarto sobre um tecido, como se estivesse num voo de avião. O avião voará pelo quarto diversas vezes e o adulto pode explicar à criança que quando o avião estacionar, eles terão chegado a um supermercado (mais motivador ainda se for a representação de um supermercado que a criança conhece e gosta de frequentar em sua cidade).
O adulto então estabelece uma atividade cíclica em que ele leva a criança para dar voltas pelo quarto no tecido.  Após 1 a 5 voltas, o adulto afasta-se fazendo suspense e, de forma previsível volta a levar a criança para dar voltas novamente, repetindo diversos ciclos sem pedir nada à criança, apenas fazendo a ação motivadora de graça, pausando por alguns segundos, fazendo a ação novamente, pausando, e assim por diante.

Como fazer uma solicitação divertida?
O adulto poderá se divertir com a criança enquanto a leva pelos voos no quarto e, quando notar que a criança está altamente conectada, demonstrando este interesse através de olhares, sorrisos, gestos, sons ou palavras, o adulto pode anunciar animadamente que eles chegaram ao supermercado.
O adulto poderá mostrar para a criança um cartaz com alguns produtos de supermercado afixados. Ao elaborar o cartaz e os produtos, você poderá escolher bebidas e comidas que a sua criança goste. O adulto então explica que eles vão poder escolher algumas bebidas e algumas comidas, destacando estes itens do cartaz e colocando-os em cima de outro cartaz menor. Neste cartaz menor, poderão existir campos em branco (por ex.: ___ + ___ = ___).
O adulto ajudará a criança a contar a quantidade de itens de bebidas e a quantidade de itens de comida. Cada quantidade será anotada pelo adulto nos campos do cartaz menor. Depois, o adulto e a criança farão a operação de adição, contando todos os itens selecionados e chegando à soma total dos itens escolhidos.  A soma total também será anotada no cartaz menor.
A solicitação para que a criança destaque os itens de supermercado do cartaz e depois realize a contagem e a soma dos mesmos é feita através de um convite animado, e não uma ordem. As tentativas da criança de escolher os produtos, de contá-los e somá-los são então comemoradas carinhosamente pelo adulto.
Após realizarem a primeira compra no supermercado, o adulto convida animadamente a criança para uma nova volta pelo quarto, e um novo ciclo da brincadeira se inicia.
É possível realizar a atividade com dois adultos facilitadores e uma criança?
Esta atividade poderá ser realizada entre um adulto facilitador e uma criança e, dependendo do estágio de desenvolvimento da criança, a atividade poderá sim ser também conduzida por dois adultos facilitadores.
As consultoras da Inspirados pelo Autismo Fernanda Nascimento e Jaqueline França conduziram uma sessão a três usando esta atividade. As duas consultoras juntas levaram a criança para dar a volta de avião pelo quarto, e comemoram com entusiasmo todas as participações da criança na brincadeira.
Uma das vantagens de realizar sessões a três é que, enquanto um adulto pode conduzir a atividade, o outro pode ser um modelo social para a criança de como agir na brincadeira, facilitando a compreensão e o engajamento na atividade. O adulto que conduz a atividade pode então dar explicações ao outro facilitador e e celebrar a participação dele na brincadeira, motivando a criança a também realizar as tentativas.
Acesse o vídeo abaixo para assistir a um trecho da sessão realizada pelas nossas consultoras com essa atividade interativa:

Variações:

Quando a criança já consegue somar as duas categorias de produtos com facilidade, podemos ajustar o grau do desafio desta atividade criando mais categorias a serem somadas. Por exemplo, em vez de somar duas categorias (alimentos e bebidas), o adulto pode convidar a criança a somar três ou quatro tipos de produtos diferentes, aumentando o “carrinho” de compras. O cartaz menor poderá então ter o formatos ___ + ___ + ___  = ___ ou ___ + ___ + ___ + ___= ___.
Para ajudar a criança a manter-se motivada durante a interação e prolongar o tempo de duração da atividade, podemos inserir em alguns ciclos pequenas variações na ação motivadora como, por exemplo, o adulto mostrar que o avião está voando em diferentes altitudes, enfrentando uma tempestade, passando por cima de cidades ou voando em câmera lenta. Caso vocês estejam realizando uma sessão a três, a criança pode ser inicialmente levada por um adulto só, e então o outro adulto facilitador pode ser anunciado, entrar no quarto com uma fantasia diferente e seguir no voo com a criança em direção ao supermercado. O adulto pode ainda cantar músicas ou representar personagens que a criança goste enquanto a leva para dar voltas de avião pelo quarto.
Se a criança se interessar por dar giros pelo quarto, mas nós desejarmos trabalhar a meta de número-adição associada a uma meta diferente, como, por exemplo, a comunicação verbal expressiva, podemos pedir que a criança fale o número de itens de cada categoria de produtos, nomeie cada produto ou que ajude o adulto a contar o número de voltas dadas pelo quarto no avião.
Já se a meta for aumentar ainda mais a participação da criança na brincadeira simbólica, podemos oferecer o “passeio pela cidade” (no quarto) de diferentes modalidades – de avião (em cima do tecido), à cavalo (com a criança de “cavalinho” nas costas do adulto), de carro (o adulto pode levar a criança dentro de uma caixa), etc. O adulto também pode criar situações específicas, por exemplo: Imagine que vamos assistir a um filme em casa, então que comidas e bebidas vamos comprar no supermercado? Ou vamos imaginar que nossa família vai para o clube, o que a gente vai levar do supermercado para o lanche? Podemos também convidar a criança a expandir o jogo simbólico e continuar a trabalhar a matemática pagando com dinheiro de brincadeirinha o valor final da compra e receber do caixa o troco.
Se a nossa criança não se interessar por dar voltas no quarto, podemos manter a mesma estrutura e meta da brincadeira e oferecer ações motivadoras diferentes como, por exemplo, cócegas, massagens, pular na cama elástica, pular na bola de Pilates, etc. Nossa experiência tem nos mostrado que algumas crianças apreciarão por si só a experiência de simular uma compra no supermercado e, nesse caso, olhar o cartaz e escolher os produtos já serão ações motivadoras empolgantes e interessantes para elas.


Comentários

  1. Parabéns pelo projeto. Trabalhar o lúdico é a forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos através de jogos, música e entre outras.

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